quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quando senti raiva



Quando eu senti raiva, tinha já em consciência uma dose de equilíbrio para que tal sentimento não extravasasse em cólera “envergonhante”. Meu corpo, porém, reagiu de forma imediata e a mente dilatou e comprimiu, em freqüência estranhamente cardíaca.
Quando eu senti raiva, senti raiva porque senti raiva. Como pode tal sentimento ainda fazer do coração de rubro ficar negro, duro, comprimido, ao mesmo tempo em que tenta respirar em meio a tanta lama e podridão.
Quando eu senti raiva, eu perguntei o porquê; quis saber do amor que fluiu, do orgulho que se feriu, e que sangrou por que tinha massa suficiente para se magoar.
Quando eu senti raiva, meu superego armou maior barraco com o ego e Freud não apareceu para a briga apartar
Quando senti a raiva, coloquei-a a minha frente e vi o quanto ela me segurava fortemente a goela. Não pude fazer o mesmo. Não de posse da minha consciência.
Quando senti a raiva, coloquei-a a minha frente e disse que ela não teria razão de ser, pois, em sua busca, talvez, pela loucura, esta, de mim, ela não realmente, desta vez, não teria.
Quando senti a raiva, percebi o quanto ela me afetava. A raiva me tinha afeto. Corri para o abraço, dolorido, espinhoso, mas apertado. Um ato de compaixão que nem sei se dela por mim ou eu por ela.
Quando senti a raiva, quis publicá-la, para que não se sentisse só, para que os outros pudessem conhecê-la, entendê-la, para ajudarem a me explicar, o que dela tento, mas não entendo; sinto e ainda não consinto.
É...Quando eu senti a raiva, eu vi minha sombra, tão clara quanto o paradoxo oqual se seguem estas palavras. A sombra não tinha a raiva. Esta sim, tinha aquela debruçada em si, olhando iluminadamente, para mim.
Quando eu senti raiva, eu escrevi para ela, qual história em canto poético feito para ninar.
E foi quando eu, eu mesma, não a senti mais.

Lívia Suhett

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